sexta-feira, 29 de abril de 2011

A viagem

Querida Tata,

Já estou arrumando as malas, resolvi seguir em uma viagem longa e ainda sem destino definido. Sei onde estou, mas o rumo que seguirei dependerá da direção do vento. Por alguns dias serei como um navio sem leme. Fiz questão de preparar a bagagem com cuidado para levar o necessário. Nem pouco, nem muito, mas o suficiente para suportar as quatro estações.
Parto então em pleno verão, por isso precisarei de roupas leves. Levarei também um guarda sol para os momentos de descanso. Não precisarei de bússola, é melhor um catavento, com cores bem alegres. Seria importante também levar minha antiga pipa amarela para poder vê-la contrastando no céu azul, bem limpo.
Precisarei de água, mas uma garrafa pequena já é o suficiente, pois irei na certeza de fazer bons amigos e são eles que nos reabastece, os considero fontes que sempre jorram forças para podermos continuar a caminhada. 
Levarei minha bicicleta, que mesmo velha, me acompanhou por caminhos interessantes até aqui. Quando chegar o outono, passarei por sobre as folhas caídas ao chão e ouvirei um creptar, para assim lembrar que folhas mortas são adubos que fortalecem sua mãe, que nas próximas estações dará frutos.
Seguirei pedalando até encontrar o lugar ideal para fazer minha alimentação de corpo e alma. O corpo, alimentarei com as frutas que levarei em uma cesta, e a alma será saciada ao ouvir a água do riacho que corre por sobre as antigas pedras incrustadas ao solo. e ao ver os verdes musgos ali depositados lembrarei da minha avó que sabiamente dizia que "pedra que muito rola não cria limo", poderei então encontrar o valor que há no lar e sua rotina necessária.
Quando o inverno trouxer o sinal de sua presença, precisarei das minhas botas. Seguirei então a pé, para que o vento não castigue tanto com sua força dilaceradora. E aquela xícara de café feita com açucar e carinho irá me aquecer o coração. Buscarei abrigo para ler meu livro favorito enquanto o fogo esquenta os meus pés cansados de caminhar. E ao olhar as chamas acesas, observarei que sempre indicam para o alto, mesmo tendo como apoio velhos pedaços de madeira. Saberei então qual o verdadeiro sentido da transmutação da matéria. A verdadeira alquimia. E com toda magia e mistério do inverno, seguirei em frente até encontrar os primeiros raios do sol da primavera. O vento me trará o cheiro doce das flores.
Buscarei então os caminhos floridos e enfeitarei meus cabelos, me tornarei mais bela para encontrar o tão almejado amor, mas se ele não vier, a brisa leve das frescas manhãs secarão minhas lágrimas. Guardarei então no coração o sentimento retido, para que nas noites solitárias eu possa escrever os mais lindos poemas de amor.
Nessa caminhada solitária cantarei as músicas que já não se cantam mais, entoarei junto aos pássaros os cantos à natureza.

E ao final dessa longa viagem chegarei a algum lugar, chegarei na certeza de ter aprendido que de poucas coisas são necessárias para sermos realmente felizes.

Com carinho,
sua mami

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